Sim, nós NÃO podemos.
Afonso Camboim
Ultimamente tenho me esforçado bastante para entender por que o Movimento Esperantista até hoje não estabeleceu uma política institucional para tentar, de forma permanente e estratégica, responsabilizar os governos nacionais pelo Esperanto.
A implementação de uma tal política implicaria, obviamente, a parceria da Universala Esperanto-Asocio - UEA (coordenação internacional) com as Landaj Asocioj (execução local), e talvez não nos julguemos aptos para isso. Mas, se um dos objetivos fundamentais do Esperanto é tornar-se "segunda língua de cada povo", uma das maiores tarefas dos que representam a língua não deveria ser exatamente a construção do diálogo com os que representam os povos? As lideranças do movimento talvez achem que atingiremos o status de Língua da Humanidade indo direto aos indivíduos, à revelia dos estados... Será?
A crescente evidenciação dos "problemas que o Esperanto pode resolver" (o número cada vez maior de balbuciantes em língua estrangeira, os custos financeiros da babel, entre outros) transforma em questão de cidadania (logo, de governo) o estabelecimento de uma língua mundial comum, que permita o "bilinguismo suficiente". Os esperantistas, porém, os únicos que até agora otimizaram uma solução para a babel, têm abdicado de levá-la seriamente aos governos, talvez porque isso implique muita burocracia, argumentação e luta política - além de muita união e organização interna dessa minoria, que somos os esperantistas.
O fato de reunirmos quase 3 mil esperantistas de 80 países em um congresso mundial como o de Lille/2015, sem que tenha havido oficialmente qualquer discussão sobre esse tema e sem que tenha havido sequer uma reunião da diretoria da UEA com as das Landaj Asocioj, mostra ao mesmo tempo nossa força e nossa fraqueza. Sim, o esperantismo é um organismo vivo - mas sem vontade política.
Diante dessa contradição, meu esforço de entendimento se perde em um círculo vicioso. Co-responsabilizar governos pelo Esperanto: não podemos porque não queremos, ou não queremos porque não podemos?
Uma certeza permanece: enquanto a entidade que dirige internacionalmente o movimento não conduzir o processo, sim, nós não podemos.
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